A Eucaristia na Vida de um Dehoniano 61a3d
"...na santÃssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo..." (Presbyterorum Ordinis, 5). 15f3a
21.03.2025 - 13:01:00 | 11 minutos de leitura

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A missa é o centro da Oração da Igreja. Nela todo batizado faz a experiência de encontro, no EspÃrito Santo, com Cristo, morto e ressuscitado, e com o Pai. Nela os batizados são alimentados na fé e, pelo testemunho de sua profissão, alimentam a fé de seus irmãos em Cristo. Isso vem de uma herança de fé dada aos batizados pelo testemunho dos Apóstolos, que viram e ouviram o que Cristo Jesus fez e falou em Sua peregrinação terrestre. Nisto consiste o ápice de toda a vida do batizado, o qual é convidado a ofertá la a Deus, num espÃrito de oblação unido a oferta de Cristo ao Pai.
Padre Dehon, soube fazer essa experiência de encontro com o Pai e com Cristo, no EspÃrito Santo, em conjunto com a Igreja. Essa experiência constituiu sua vocação e é a base do carisma dehoniano, no qual muitos religiosos professaram seus votos e vivem sendo profetas do amor e servidores da reconciliação. Assim, ele inspira toda a vida do religioso dehoniano, dado que o Coração de Cristo é sua inspiração para fundar esse carisma. O dehoniano é, portanto, chamado a aprender com seu fundador a rezar, a contemplar os mistérios de Cristo, a compreender o progresso da vida espiritual e os hábitos próprios da congregação a que pertence.
Para Leão Dehon, a oração é o primeiro exercÃcio de piedade. Ele a colocara como primeiro parágrafo da parte do Diretório Espiritual que discorre sobre os exercÃcios de piedades próprios da Congregação. Nesse parágrafo, Dehon começa com uma indagação: âComo poderão as nossas orações ser[sic] atos de amor e de reparação, se não forem recolhidas e fervorosas?â (DE., 218). Certamente, é para seus religiosos perguntarem-se, refletindo tal questão em suas vidas e procurando conformarem-se ao que nesse momento Dehon pede a eles. Portanto, a oração é o primeiro degrau e a base constante que leva o religioso dehoniano a viver e a amadurecer em si o EspÃrito de sua vocação.
âComo poderão as nossas orações ser atos de amor e de reparação, se não forem recolhidas e fervorosas?â (DE., 218)
No espÃrito
da vocação dehonina, há elementos da vida de Padre Dehon, como o elemento do
quarto voto, o voto de vÃtima, que se verifica na história da congregação,
quando Leão Dehon faz sua profissão religiosa. Apesar da Santa Sé não aprovar a
oficialização deste quarto voto nas profissões religiosas feitas na
Congregação, é interessante ver como Dehon queria que esse espÃrito de vÃtima
fosse vivido, pelos seus religiosos, aliado ao espÃrito da vocação:
Recordemos aqui à s noções teológicas relativas ao sacrifÃcio e à vÃtima. A vÃtima é um ser vivo oferecido em sacrifÃcio. O sacrifÃcio é a oblação de uma coisa ou de uma pessoa, feita a Deus, que implica alguma destruição, a fim de reconhecer o seu supremo domÃnio e para estes quatro fins: adorar, agradecer, suplicar, expiar. A nossa profissão de imolação pode reduzir-se praticamente a esta fórmula: rezar, agir, sofrer e sacrificar-se pelo Coração de Jesus (DE., 173).
Sendo assim, um dehoniano é chamado a rezar em primeiro lugar; agir, em segundo; sofrer, por consequência do agir; e sacrificar-se, com atos de oferta de si ao Coração de Jesus. Na prática, isso significa que o dehoniano não reclama por ar um pouco de necessidade, ou por ar despercebido em alguma tarefa, ou por não ser considerado por seus próprios irmãos na Congregação, ou por uma transferência em momento inoportuno, mas, no lugar, ele pratica a oblação. O dehoniano é sacrifÃcio no altar, assim como Jesus o foi no altar do calvário; é aquele que recebe o golpe da lança, assim como Cristo recebeu-o no alto da cruz. Ele aproveita cada situação, por mais difÃcil e injusta que seja contra si, para reparar o Divino Coração, também desprezado por muitos, para viver de fato o EspÃrito de vÃtima conforme essa fórmula dada por seu pai fundador.
âComo assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação...â (Mt 26, 40-41)
Isto é uma necessidade para o dehoniano, pois fortalece e integra na sua vida o EspÃrito de sua Vocação. Mas, como atender a essa necessidade? Como neste mundo frenético e rápido um religioso dehoniano pode estar atento, e não dissipado, aos movimentos do Coração de Jesus?
Dehon ensina que a oração precisa de algum modo ser contÃnua, para manter a união habitual com Cristo, e, aos poucos, tornar-se perfeita, enquanto se pratica os atos que correspondem aos quatro fins do sacrifÃcio (cf. DE., 178). O próprio Cristo ensina isso: âComo assim? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora! Vigiai e orai, para que não entreis em tentação...â (Mt 26, 40-41).
Com efeito, Cristo terá Seu coração mais confortado e reparado por uma oração constante, multiplicada por pequenos atos de oração, do que por grandes atos de oração que são ofertados com pouca frequência (cf. DE., 326). Com essa oração contÃnua, o dehoniano fica em união com Cristo, no Seu amor ao Pai e aos homens, e é chamado a fazer dessa união o centro de sua vida (cf. Cst., 17).
Porém, não porque a oração é para ser contÃnua que não se deve ter momentos de oração durante o dia que sejam mais fervorosos e ardentes. Muito pelo contrário, somente é possÃvel ter uma oração contÃnua se o religioso de entrega a oração pessoal e a oração comunitária, principalmente a celebração da EucarÃstica e a adoração reparadora.
Assim, os seus dias tornar-se-ão verdadeiramente eucarÃsticos (EE., 31)
A Igreja diz isso a partir unindo essa oração contÃnua à oração da Igreja, isto é, mostrando que toda oração parte da Oração da Igreja, a Eucaristia, que é fonte e centro da vida cristã (cf. LG., 11) e o maior ato do dia de um religioso dehoninano (cf. DE., 229), pois â... na santÃssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo...â (PO., 5). Sabendo disso, o dehoninano não faz sua união a não ser a partir da celebração da Santa Missa, pois nela o sacerdote oferece a Deus a VÃtima e ele mesmo juntamente com Ela, e, ainda, os participantes do mistério, que se oferecem juntamente com o sacerdote (cf. LG., 11).
Portanto, ser um dehoniano, que implica a união habitual com Cristo, implica, por consequência, a celebração de seus mistérios, principalmente a Eucaristia. Até a Igreja reconhece isso ao dizer para o sacerdote â mesmo o não dehoniano â que celebre o SacrifÃcio eucarÃstico diariamente, mesmo sem a presença dos fiéis, pois este é um ato de Cristo e da Igreja, onde o sacerdote exerce seu múnus principal (cf. Can., 904). Mas, o sacerdote dehoniano vive da Eucaristia, ou seja, ele necessita se alimentar diariamente para manter-se em união habitual ao Senhor. Isso está tão intrÃnseco a sua adesão a Cristo reparador, que faz toda sua vida se transformar em uma missa contÃnua, se assim viver (cf. Cst., 5).
Os sacerdotes... celebrem com frequência; mais, recomenda-se-lhes... a celebração quotidiana, a qual... é um ato de Cristo e da Igreja, em que... desempenham o seu múnus principal. (Can., 904)
Não se trata, apenas, de seguir algumas orientações da Igreja e Regras da Congregação, mas de uma verdadeira disposição que, vivida cotidianamente, torna-se, aos poucos, habitual. Isso recorda São João Paulo II com a importância da celebração eucarÃstica para os ministros ordinários:
... o Sacerdócio... dos PresbÃteros... estão em relação muito Ãntima com a Eucaristia. Esta é a principal e central razão de ser do sacramento do Sacerdócio, que nasceu efectivamente[sic] no momento da instituição da Eucaristia e juntamente com ela (DC., 2).
Além disso, ele retoma esse contexto, ratificando sua importância à Igreja e aos sacerdotes, para que estes mantenham-se atentos e ao seu Divino Mestre, e não dispersos em várias atividades que consomem seu tempo:
Deste modo,... será capaz de vencer toda a dispersão ao longo do dia, encontrando no sacrifÃcio eucarÃstico, verdadeiro centro da sua vida e do seu ministério, a energia espiritual necessária para enfrentar as diversas tarefas pastorais. Assim, os seus dias tornar-se-ão verdadeiramente eucarÃsticos (EE., 31).
Em suma, tudo isso é necessário ao religioso dehoniano â especialmente ao sacerdote â para entrar e permanecer na chaga do Coração Transado de Cristo. Ele faz memória dos mistérios de Cristo ao longo do seu dia. E realiza suas ações litúrgicas mais ardentemente compenetrado, vivendo a celebração dos mistérios de Cristo na Eucaristia e na Liturgia das Horas, a oração pessoal com a Sagrada Escritura, a adoração reparadora e o ato de oblação ao longo de seu dia; tudo em espÃrito de amor e reparação. Isso fortifica sua vocação e torna seu apostolado mais fecundo. à a essa experiência de fé que o religioso dehoniano é chamado a permitir que Deus faça em sua vida, âe o verbo se fez carne e habitou entre nósâ (Jo 1, 14a), tornando-se ao mundo testemunho autêntico do memorial de Cristo na Terra, para que todos vejam Sua glória, âcheio de graça e de verdadeâ (Jo 1, 14c).
Abreviaturas e Siglas
Can: Cânon (Código de Direito Canônico)
Cst: Constituições (Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus)
DC: Dominicae Cenae
DE: Diretório Espiritual (Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus)
EE: Ecclesia de Eucharitia
Jo: João (BÃblia Católica)
LG: Lumen Gentium
Mt: Mateus (BÃblia Católica)
PO: Presbyterorum Ordinis
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